AS NOVAS DOENÇAS DA ALMA

A psicanálise tradicional ainda é eficiente? Existe um novo tipo de paciente? Os distúrbios psiquiátricos atuais estão previstos na teoria clássica? Julia Kristeva responde a essas perguntas no seu mais recente livro, As novas doenças da alma. Em quatorze ensaios críticos, a psicanalista propõe novos caminhos para os principais conceitos freudianos. Segundo Julia, a vida psíquica do homem moderno situa-se entre os sintomas somáticos (doença, hospital) e a transformação dos desejos em imagens (devaneio diante da televisão). É preciso então que a psicanálise empreenda uma releitura dos diagnósticos e procedimentos para acompanhar as mudanças e proporcionar conforto, segurança e uma compreensão mais abrangente da alma. E é justamente sobre alma que trata um dos seis artigos da primeira parte, A clínica.

São debatidos também a influência da neurociência e da farmacologia nos tratamentos, a necessidade de reavaliação do conceito de pulsão, a importância do discurso e dos processos semióticos nas terapias, a ética e a validade dos métodos clássicos em relação às atuais situações analíticas e os obstáculos para o desenvolvimento da psicanálise (dentre eles, o lado normativo que elege uma verdade inquestionável e o declínio do desejo de saber, que interrompe o acesso efetivo ao psiquismo). A autora cita seus pacientes como exemplo e expõe os insights que esses tratamentos trouxeram às suas convicções profissionais.Para Kristeva, a psicanálise poderia ser um dos raros lugares, preservados, de mudança e surpresa, isto é, de vida. Ela acredita que é possível empreender ajustes nas técnicas e crenças da psicanálise, mantendo-a fiel ao pensamento de Freud e Lacan, mas ao mesmo tempo atenta à complexidade do discurso psíquico.Na segunda parte, A história, Julia concentra-se nas interações com a semiologia e com as teorias sobre linguagem, com os produtos culturais, a Bíblia e a obra de James Joyce e Dostoievsky.