BIBLIOTECA DO MEMBRO 09

Até bem pouco tempo subestimada nos Estados Unidos, Melanie Klein foi uma figura de proa nos círculos psicanalíticos desde os anos 20 até sua morte em 1960. Mãe da teoria das relações objetais, ela via o desenvolvimento das crianças - e das meninas, em particular - de um modo que era, a um tempo , uma extensão do pensamento freudiano ortodoxo e um desafio a ele.
Agora, recorrendo a grande quantidade de documentos até então desconhecidos, bem como a extensas entrevistas com pessoas que conheceram e trabalharam com Klein, Phyllis Grosskurth compôs uma magnífica descrição desta mulher importante e complicada e de suas teorias teorias que têm ainda hoje crescente influência no mundo inteiro.
Primeiramente, ela nos remete à Viena da virada do século e à infância problemática de Klein: sua mãe dominadora, seu pai ineficaz, seu irmão amado e imprestável. Mostra-nos o casamento de Klein com um homem por quem ela disse estar "até certo ponto apaixonada”,e o nascimento de seus filhos. Vemos Klein caindo em depressão e depois entrando em análise com o ardente e charmoso Sándor Ferenczi, colega íntimo de Freud. Sob sua orientação, Klein começa a mudar, a crescer, à medida que aproveita sua propria análise em seu trabalho com crianças emocionalmente perturbadas
Em seguida, Phyllis Grosskurth nos mostra Klein em Berlin, onde se foi membro da Sociedade Psicanalítica de Berlim e é analisada e também incentivada em seu trabalho por Karl Abraham. Ela passa a ter seus trabalhos publicados e, após uma calorosa recepção de uma série de conferências proferidas em Londres, aceita o convite de Ernest Jones para ir clinicar na Inglaterra. Um futuro brilhante e produtivo pareceu estar ao alcance de suas mãos.
Entretanto, esta mulher brava e vigorosa encontraria (e por vezes provocaria) oposição. Com efeito, ela passaria o resto de seus dias envolvida em acalorados conflitos sobre a natureza de sua obra e em disputas pelo controle das organizações profissionais a que pertencia primeiro com Sigmund Freud e sua filha e ajudante Anna; depois, com vários analistas britânicos que originalmente a tinham acolhido com tanto entusiasmo, e, o que é mais trágico, com sua própria filha, Melitta, que Klein introduziu no mundo psicanalítico
quando ela não era senão uma menina em Budapeste. E contudo, mesmo constantemente assediada, Klein continuou a explorar novos territórios em seus estudos sobre o luto e a inveja, e a desenvolver o significado de conceitos-chave tais como o complexo de Édipo e o instinto de morte.Melanie Klein não apenas era uma teórica extremamente original e uma psicanalista eficiente, como também uma mulher absolutamente fascinante. Este livro brilhante e definitivo sobre a sua vida é uma contribuição fundamental à história psicanalítica.