No meio psicanalítico, a palavra clínica não para de excitar e de ganhar elogios a despeito do fato de que não existe, na psicanálise, uma descrição clínica que consiga provar certa visão teórica em detrimento de outra, e tampouco uma explicação teórica é capaz de resolver definitivamente certa situação clínica. Na sua primeira visita ao Brasil, André Green recomendou procurar outra ocupação a quem não pudesse tolerar e conter tamanho desassossego. A autora o escolheu como Guia do perplexo para suas inquietações clínicas, justamente porque Green releva o pensar como a atividade por excelência do analista. O pensamento clínico não é uma reflexão sobre e nem a partir da clínica, mas é a própria clínica nascida no encontro em direção à descoberta dos objetos psicanalíticos. Porém, exercer isso só é possível se formos pensando com a história da psicanálise - atravessando, como afirma L. C. Figueiredo (orientador da Talya), os paradigmas existentes na psicanálise. Na intensa e complexa obra de Green, a noção freudiana dos limites, como característica central da vida psíquica, convoca outros autores (Ferenczi, Abraham, Klein, Lacan, Bion, Winnicott) à virada dos anos 1920 na obra de Freud, para compor, no eixo narcísico da vida psíquica, as pulsões e o trabalho do objeto em um aparelho psíquico de duplo limite. Construção da obra de Green que Talya Candi segue traçando, pela primeira vez a serviço do leitor brasileiro, com uma clareza e uma profundidade notáveis. Que bela estréia!
Daniel Delouya
Prefácio
Novas vias para a psicanálise. As trans-posições de
André Green, Luís Cláudio Figueiredo .......................................... 9
Introdução ..................................................................................... 15
1
As interlocuções de André Green (ou as vicissitudes da ausência
nas obras de M. Klein, W. Bion, D. W. Winnicott e J. Lacan)
Introdução .......................................................................................... 37
Excesso e violência: o mundo interno kleiniano ................................ 42
Sobre Freud e a realização alucinatória do desejo............................... 44
Melanie Klein e as fantasias inconscientes......................................... 49
O jogo kleiniano................................................................................... 54
A lógica da desesperança..................................................................... 58
O conceito de pulsão de Green e a fantasia inconsciente kleiniana.... 61
Bion: a resposta do objeto externo e as consequências de suas falhas ............... 64
Freud: da realização alucinatória do desejo à capacidade de pensar... 66
As contribuições bionianas ................................................................. 70
A identificação projetiva normal e a excessiva................................... 75
Aparelho psíquico: um aparelho digestivo ....................................... ..78
Sobre a atividade de criar sentido: a ligação e seu ataque .................. 83
Bion: Diferenciação entre personalidade psicótica e não psicótica e o paciente borderline de Green................................ 88
Ajuste e desajuste na relação mãe-bebê: as condições para A criação do sentido................................................... 93
A mãe morta ...................................................................................... 99
Winnicott, o brincar e a realidade..................................................... 104
As contribuições de Winnicott ao pensamento de André Green...... 110
A posição depressiva em Klein e em Winnicott............................... 112
O despertar pulsional entre psicose e loucura.................................. 118
Sobre a ilusão e a construção da realidade ....................................... 121
Objeto transicional e espaço potencial.............................................. 127
O espaço transicional e a terceiridade............................................... 134
Estados-limite e o colapso da transicionalidade .............................. 141
Sobre o pensar em Winnicott, Bion e Green .................................... 148
Lacan: reflexividade e linguagem ..................................................... 152
Da ausência à falta............................................................................. 158
A estruturação narcísica do sujeito: da fase do espelho à alucinação negativa ......................................................................... 165
A questão da alteridade e dos outros .................................... 173
Anotações sobre a linguagem em Lacan e Green ................. 179
A questão do sujeito............................................................................ 188
2
O duplo limite na obra de André Green: a construção de um
modelo clínico/teórico da psique
Introdução ............................................................................... 195
O limite como novo paradigma para a psicanálise............................... 204
O contexto histórico: dificuldades e mudanças no campo psicanalítico ............. 204
Nos limites do analisável: os estados-limite-primeira aproximação.... 208
O analista: ausência e simbolização....................................... 219
O narcisismo e a relação de objeto: revisão teórica ................... 229
O limite como conceito: segunda aproximação ............................... 237
NOSOGRAFIA LIMITE E SUAS VICISSITUDES ........................... 244
A clivagem e a gênese do limite ......................................................... 244
O paciente difícil no limite da psicose ou da esquizofrenia: terceira aproximação.............................................................. 248
O trabalho do negativo e o duplo limite .............................................. 253
Caso-limite como estrutura não neurótica: quarta aproximação ....... 259
O funcionamento-limite em sessão: a posição fóbica central............. 267
OS NOVOS CAMINHOS DA TERAPÊUTICA PSICANALÍTICA:
REFLEXÕES SOBRE O ENQUADRE E A TÉCNICA ......................272
A intolerância ao enquadre clássico na clínica não neurótica: o silêncio do psicanalista ...................................................................... 272
O enquadre psicanalítico: suas funções, causas e efeitos ............. 284
Sobre os modelos do enquadre: da realização alucinatória e seus fracassos ................................................................. 289
Sobre a construção de uma área intermediária interna ................... 296
Conclusão............................................................................................299
Biografia de André Green.................................................................. 305
Referências ........................................................................................ 329
