PSICANÁLISE E PESQUISA - A FUNÇÃO PATERNA

Esta série, Psicanálise e conexões, destina-se a apresentar os efeitos
da interdisciplinaridade entre o discurso psicanalítico e os outros
discursos.
O campo de pesquisas é, para a psicanálise, a clínica em
intensão e extensão. Chamamos de psicanálise em intensão aquela que
se dá no percurso de uma análise e psicanálise em extensão, o que diz
respeito aos efeitos da análise pessoal no laço entre os analistas e no
destes com o social e outros campos de saber.
É preciso dizer qual a função da pesquisa numa escola lacaniana
de psicanálise: ela faz parte da formação de cada psicanalista, uma
vez que, através de seus efeitos, produz-se nele um questionamento
sobre o que é sua experiência de discurso.
Apesar das dificuldades inerentes à sustentação de uma
interface entre campos de saber distintos e em função dos limites
impostos por cada discurso, um grupo de psicanalistas da Escola
Lacaniana de Psicanálise (ELP) decidiu lançar-se em uma experiência
de escuta, para-além da realizada no privado de seus consultórios, na
direção do que podemos nomear de clínica geral.
Sob o modo de cartel, órgão de base de uma escola de
psicanálise, dividiu-se o grupo para evitar os efeitos imaginários de
colamento e estagnação, sempre presentes nos grupos, privilegiando
um trabalho mais eficaz na elaboração e transmissão da experiência.
Cada livro da série guarda uma forma particular de lidar
com os enunciados e enunciações. Deste modo, pretende-se
apontar para a singularidade de cada fala, visando evidenciar a
autoria em questão.
Os escritos de cada texto privilegiam o que pôde ser
elaborado em cada experiência, a partir da escuta dos significantes
que permeiam o campo pesquisado. Portanto, os relatos recolhidos
nos livros da série não são, necessariamente, citações rigorosas dos
entrevistados, mas um trabalho laborioso de tessitura na composição
de uma tela, no qual a cena emoldurada possa ser vista por qualquer
um e as conclusões sejam obtidas a partir da leitura realizada com os
significantes de cada um.
Optamos por um modo de escrita no qual a autoria constitui-
se a partir da leitura de textos teóricos e demais materiais de pesquisas
realizadas pelos cartéis envolvidos. Para tal, tomamos como
exemplo os livros de Scilicet, ainda inéditos em português, nos quais
este modo de transmissão do saber psicanalítico privilegia a experiência
do conjunto dos analistas-autores-de-textos, fundando-se sobre
o princípio do texto não assinado. Afirma Lacan na introdução de
Scilicet: ¿[...] pelo menos para qualquer um que contribuirá com
um artigo como psicanalista¿ . Por não se tratar de anonimato, ao
conjunto destas publicações da Série Psicanálise e Pesquisa segue-se
a lista dos analistas que deram a sua contribuição, pondo à prova a
transmissão em psicanálise, ao privilegiar a elaboração teórica como
produto de um ensino, o lacaniano.
O recolhimento e tessitura dos vários ditos constituem uma
trama, onde o que importa é a topologia estrutural de um texto
alinhavado para transmitir o não-senso real da experiência com o
inconsciente.
A Escola Lacaniana de Psicanálise (ELP) torna-se assim a
única assinatura: o privilégio a uma produção coletiva aposta que
esta seja o testemunho de um ensino da Psicanálise.