REVISTA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE VOLUME 54, n. 2 - 2020 (PANDEMIA)

REVISTA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE VOLUME 54, n. 2 - 2020 (PANDEMIA)

Código: 0486641-X(CO)

Marca: FEBRAPSI


Revista Brasileira de Psicanálise
Órgão Oficial da Federação Brasileira de Psicanálise
Volume 54, n. 2 - 2020
Número de páginas: 284
Categoria Principal: Publicações da SBPSP


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No início do ano, quando escolhemos a cor preta para a lombada da revista, não imaginávamos que a cor adotada pudesse vir a significar e simbo­lizar um laço amarrado em nossos braços pelo luto de tantos mortos em nosso país e no mundo. Estamos em luto pelas vítimas e pelo sofrimento de tantas famílias atingidas pelo coronavírus.

No calendário editorial de 2020, o primeiro número homenageou os 100 anos do texto Além do princípio do prazer, no qual Freud formulou o con­ceito de pulsão de morte, um momento de profunda mudança no arcabouço da teoria psicanalítica. O próximo tema programado era sobre o Édipo. No entanto, decidimos retirá-lo do calendário e abrir espaço para a pandemia do coronavírus. A rápida mudança de tema surgiu do entendimento de que a rbp, como um fórum privilegiado para psicanalistas, deveria ocupar um espaço de "praça pública" científica, a fim de acolher as palavras, os testemunhos, as experiências clínicas e as elaborações teóricas frente à vivência traumática da pandemia que assola o nosso planeta.

O tema escolhido motivou o recebimento de 50 trabalhos, enviados a partir da carta-convite da rbp, o que revelou a sensível demanda de trocarmos ideias e experiências num momento em que a área da saúde mental foi reconhe­cida por sua importância e chamada a colaborar com seus conhecimentos, como há muito tempo não se via. Num artigo publicado na Folha de S. Paulo, Drauzio Varella reconhece que o "impacto na saúde mental será a sequela mais devas­tadora da pandemia" (2020). Nós, psicanalistas, integrantes da área da saúde mental, nos sentimos convocados a participar do combate aos sofrimentos cau­sados pela covid-19, utilizando o método psicanalítico do lugar da escuta. Peço ao leitor atenção especial para o relato das Redes de Solidariedade estimuladas pela Febrapsi, criadas e desenvolvidas pelas federadas. Nossas instituições res­ponderam à solicitação e trabalharam ativamente no pico da pandemia.

Em busca de compreender o contexto dos acontecimentos atuais, optamos por abrir este número com o instigante artigo de Michael Rustin, reconhecido sociólogo e psicanalista inglês, que entusiasticamente atendeu ao nosso pedido1 de escrever sobre o tema. O autor examina os significados da pandemia de coronavírus no mundo, numa perspectiva sociopolítica e psica­nalítica, descortinando a crise psicossocial deflagrada pelo vírus da covid-19, que numa velocidade extraordinária de transmissão disseminou a doença com a mesma rapidez do fluxo de capitais, de informações e até de imigrações, fluxo observável a partir dos estudos sobre a globalização. Seu texto nos introduz ao âmago dos acontecimentos atuais e, numa perspectiva psicanalítica, enfoca as ansiedades conscientes e inconscientes advindas da situação que vivemos.

Muitos depoimentos, lives e ensaios foram produzidos durante o período da quarentena, quando estávamos montando o projeto, avaliando os artigos e compondo os números Pandemia. Gostaria, porém, de trazer um recorte do interessante e original ensaio "O trauma branco e seus destinos", de Marion Minerbo, publicado em abril de 2020 no Observatório Psicanalítico.2 Nesse texto, a autora caracteriza a pandemia como

um tipo de violência que não conhecíamos, e por isso mesmo é difícil de reconhecê- -la como tal. Poderíamos denominá-la violência branca, por analogia a angústia branca, termo com que [André] Green descreve o sofrimento psíquico mudo, invi­sível e silencioso das patologias do vazio. A violência branca - e o correlato trauma branco - é uma violência sem sangue, silenciosa, invisível, mas letal.

Esse ensaio revela uma face intelectualmente sensível e criativa, que transbordou na vivência da pandemia. Ora, por que abordar, no editorial, um ensaio não publicado pela rbp, em vez de comentar os artigos escolhidos para este número? Porque desejo que vocês, leitores, tenham o prazer de identificar nos artigos da rbp o mesmo sentimento que me arrebatou no ensaio publica­do pelo op.

Outro ponto a ser ressaltado é que a seção "História da psicanálise" presta homenagem aos 50 anos do início dos trabalhos da pioneira Virgínia Bicudo para a fundação de uma sociedade de psicanálise em Brasília (spbsb). Neste ano, Virgínia Bicudo vem sendo relembrada e homenageada por ter sido a primeira mulher não médica e negra a tornar-se psicanalista no Brasil. O ano de 2020 marca, para além da pandemia, o despertar fundamental da luta contra o racismo, com a presença de movimentos antirracistas como Black Lives Matter e o apoio de milhares de pessoas ao redor do mundo. A rbp, como revista científica da área das ciências humanas, não poderia deixar de se manifestar a favor de movimentos civilizatórios.

Para finalizar, já que a importância dos acontecimentos de 2020 é im­possível de ser contemplada num editorial, desejo destacar que os números Pandemia na rbp têm o propósito de registrar na memória de nossas institui­ções psicanalíticas o impacto violento da pandemia, do traumático coletivo, grupal, familiar e individual, que também atingiu a psicanálise, com uma ingerência radical na dupla analista-analisando - a passagem repentina do atendimento presencial para o atendimento psicanalítico à distância, remoto, virtual ou online.

O próximo número se dedicará a trabalhar mais especificamente uma das principais indagações ao campo psicanalítico: quais as possibilidades e consequências deste novo enquadre?

Aos leitores, peço uma leitura generosa aos artigos dos colegas que se ar­riscaram a escrever sobre um acontecimento que ainda nos acomete e fragiliza.

 Referências

Minerbo, M. (2020, 23 de abril). O trauma branco e seus destinos. Observatório Psicanalítico. https://bit.ly/2V9l4qX

Varella, D. (2020, 12 de setembro). Impacto na saúde mental será sequela mais devastadora da pandemia. Folha de S. Paulo. https://bit.ly/3fJunXR

 Marina Massi

 (1) Agradeço à colega Elizabeth L. da Rocha Barros pela mediação com o autor em favor da RBP.

(2) O Observatório Psicanalítico, iniciativa da Diretoria de Comunidade e Cultura da Febrapsi, apresenta ensaios sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos do Brasil e do mundo.

Editorial

Pandemia | 17

Marina Massi

Carta-convite | 21

Equipe editorial

Diálogo

A pandemia de coronavírus e seus significados | 25

Michael Rustin

Pandemia

O potencial traumático da pandemia de covid-19 | 45

Elias M. da Rocha Barros, Alberto M. da Rocha Barros Neto eElizabeth L. da Rocha Barros

Psicanálise em tempos de pandemia | 59

Ana Paula Brandão Rocha

Patchwork psicanalítico | 73

Claudia Regina de Oliveira Lima et al.

A abelha, o psicanalista e o sonho | 89

Tânia Corghi Veríssimo e Paulo Endo

Da dor ao sonho | 105

Adriana Barbosa Pereira

Do buraco do trauma, flores de umbigo | 123

Eduardo de São Thiago Martins

Interface

Em torno da pandemia | 139

João Carlos Graça e Rita Gomes Correia

Outras palavras

Transferência negativa e interpretação | 161

Gina Khafif Levinzon

Ferenczi e Freud para além do princípio do prazer | 177

Gustavo Dean-Gomes e Daniel Kupermann

Ressentimento e os sofrimentos identitários de um jovem xiita | 193

Jamil Zugueib Neto

Terça-feira de manhã | 209

Pedro Colli Badino de Souza Leite

Projetos e pesquisas

Diálogos entre psicanálise e comunidades tradicionais | 225

Tiago Julio Bonfada

História da psicanálise

Olhares negros nos importam | 241

Paola Amendoeira

Resenhas | 253

Programa editorial 2020 | 271

Orientação aos colaboradores | 283



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