Hanry Silva Gomes de Siqueira deveria hoje estar entre nós. Deveria ter se tornado um adulto, como quase todos têm a oportunidade de se tornar. Estaria casado, jogaria futebol profissionalmente, teria filhos, ficaria bom em soltar pipa, conseguiria tirar sua família do Complexo do Lins? Quem sabe?
Como ocorre com tantos jovens negros brasileiros porém, tal chance não foi dada a ele. Hanry foi morto pela polícia e seria mais um nome a engrossar as falsas estatísticas de auto de resistência não fosse o trabalho imponderável de sua mãe Márcia Jacintho, que passou anos investigando as circunstâncias da morte do filho para descobrir, de fato, o que havia acontecido com ele
Ao retratar essa história com o apoio de documentos e entrevistas, criando uma espécie de romance-documentário que parte da investigação para mirar os efeitos provocados pela perda, Itamar Cardin traz à tona o pesadelo em que estamos imersos como sociedade. Uma morte violenta na periferia jamais deveria ser tratada como questão cotidiana. Algo que o destino de Hanry e a luta de Márcia nos ajudam a redimensionar.
11..... PARTE I- O LUTO
14..... 21 DE NOVEMBRO DE 2002
18.....DESESPERO
24.....AUTO DE RESISTÊNCIA
28.....NO PEITO E APERTOU
32.....GERMINAL
37.....O VALENTE FILISMINO
47.....SANGUE NA AMALFI
54.....AMADA GOVERNADORA
60.....UM LENÇOL ROUBADO
66.....ESPELHO
72.....A SINGELA MARIA MADALENA
84.....MEU FILHO TRAFICANTE
89..... NA DELEGACIA
96..... O VASCAÍNO
102..... NA PROMOTORIA
108..... 22 DE NOVEMBRO DE 2003
115..... PARTE II- A LUTA
118..... MÃES DO LUTO
122..... A SORRIDENTE BEATRIZ
133..... MINGAU QUENTE
139..... AUTO DE RESISTÊNCIA II
146..... COTIDIANO
152..... MILITANTE E O SUBPROCURADOR
159..... O PARCIMONIOSO SÉRGIO
168..... NA BAIXADA
172..... SUSSURROS DA MADRUGADA
179..... SAGRAÇÃO
184..... AUTO DE RESISTÊNCIA III
188..... A NETA PATRÍCIA
196..... DOR NO PEITO
202..... O CÉU DE MÁRCIA
212..... COMO LA CIGARRA
221..... EPÍLOGO
223.....HOMO SACER
249..... POSFÁCIO
21 de novembro
Um dia depois da celebração da consciência negra em 2002, Hanry Silva Comes, de 16 anos, - pardo- vestindo bermuda preta, foi assassinado. A estatística de 2010 era de um jovem negro- preto ou pardo- assassinado no Brasil a cada 23 minutos, 63 por dia.Da maioria não sabemos nem o primeiro nome.De alguns, nome, sobrenome e local da execução.De poucos, a história da morte.De Hanry sabemos que queria ser jogador de futebol, como gostava que o cabelo fosse cortado, que era o preferido das meninas, ruim de pipa, desconfiado.
Saber de Hanry, conhecer Márcia, sua mãe, e o caminho tortuoso para compreender o que aconteceu com seu filho na busca por justiça é nossa possibilidade de compreender o genocídio negro em curso no Brasil para enfrentá-lo
Prefácio de Bianca Santana