A transferência vai paulatinamente se transformando no fenômeno central da psicanálise. Freud já sabia da transferência antes mesmo da origem da psicanálise, pelos relatos que Joseph Breuer fazia do tratamento de Anna O. Numa carta a Stefan Zweig sobre o tratamento de Bertha Pappenheim, Freud narra o fracasso de Breuer em fundar a psicanálise, concebida como centrada na transferência sexual. Freud, examinando retrospectivamente, insinua que Breuer poderia ter feito as descobertas que ele mesmo faria mais tarde, desde que tivesse sido capaz de reconhecer essa transferência sexual, qual seja, um momento de tratamento de um paciente em que a sexualidade emergiu na forma de uma implicação direta do médico.
Mai tarde, a noção de transferência vai sofrer diversos desdobramentos nos escritos de Freud, dentre os quais cabe destacar o que postula sua universalidade. Em outras palavras, o ser humano (e não só é neurótico) transfere. Freud, entretanto, mantém uma reserva com relação à transferência do psicótico.
Posteriormente, ainda, a transferência vai adquirindo tal relevância na psicanálise, que acaba por definir, em grande parte e ao mesmo tempo, o lugar do psicanalista e o lugar do sujeito do inconsciente.
Neste livro organizado por Abrão Slavutzky, renomados psicanalistas brasileiros e argentinos apresentam reflexões sobre este assunto.
Os desenvolvimentos da psicanálise após Freud, produziram um complexo panorama que transformou a psicanálise num campo pluralista. Este livro que resulta de seminários ocorridos em Porto Alegre, RS, reúne textos que atestam as diferenças entre os psicanalistas mas lembram o leitor que apesar de múltiplas, as concepções dos psicanalistas compõem um quadro único cuja referência primeira é Freud. Mas Transferências não é um livro importante só por essas razões. Os temas que envolvem a transferência vão muito além da psicanálise enquanto atividade clínica e atingem o cerne mesmo da natureza humana.
A transferência é, acima de tudo, uma história de amor e de ódio que confunde com o ser mesmo do humano. Por isso este livro deve ser lido não só por aqueles que se interessam pela psicanálise, mas também por todo aquele que pensa a natureza humana.