A violência é assustadora.Tememos a violência em todas as suas formas, seja a violência da Natureza, seja a violência dos Homens. Entretanto, com o desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia conseguimos nos proteger melhor da violência da Natureza e nos tornamos mais vulneráveis à violência humana.
A violência provoca sofrimento. Quanto maior a violência, maior o sofrimento. Mas o sofrimento mais persistente e insidioso é aquele que brota da memória da violência sofrida. Ele nos assedia permanentemente e pode nos aprisionar num mundo violento sem saída.
A violência produz uma sensação de lucidez, rompendo nossa interpretação cotidiana da realidade, ela parece revelar de modo privilegiado a ¿loucura¿ do mundo onde vivemos, a violência do mundo. Diante desta violência nos sentimos impotentes frente aos acontecimentos da nossa própria vida.
No entanto, o que a experiência de sofrer violência traz à luz é, na verdade, nossa condição precária de mortais. Somos, todos nós, indigentes no sentido de sermos vulneráveis à violência o tempo todo. Em nossa fragilidade relativa, experimentamos sentimentos de desamparo e solidão que são próprios da nossa condição humana.
Resgatar a experiência de sofrer violência como revelação desta indigência, não apenas recupera o sentido do nosso cuidar cotidiano com nossa própria vida, como permite uma ampliação da compreensão da existência humana como tal. Por isso, o trabalho terapêutico com vítimas de violência humana não interessa apenas a estas pessoas, mas diz respeito a todos nós.
Nesta pesquisa terapêutica com vítimas da violência urbana, Ida Elizabeth Cardinalli traz valiosa contribuição para a compreensão e para o cuidado com estas pessoas, possibilitando uma libertação da opressão da experiência traumática da violência, ao mesmo tempo que nos aproxima da possibilidade do desenvolvimento do cuidado com a própria existência que convoca a todo nós.
SUMÁRIO
Apresentação, Marlise A. Bassani, 9
Prefácio, 13
Introdução, 15
1 Violência urbana e o estresse pós-traumático, 23
2 Heidegger: o existir humano como ser-aí, 47
3 Os modos de existir sadios e patológicos, 65
4 Método, 73
5 Descrição dos participantes e entrevistas iniciais, 91
6 Análise e discussão dos resultados, 101
Considerações finais, 131
Referências, 137
Anexo, 145