Este livro traduz o dever ético dos trabalhadores da rede de cuidados e de autores que se dedicam a pensar o tema da Saúde Mental de crianças e adolescentes. Rede que, com sua potencialidade formadora, não pode se furtar a transmitir um saber de experiência de sua função de cuidar, tratar e proteger cada criança , cada adolescente e suas famílias.
Traz ainda muitos impasses e dificuldades, mas também o possível de um fazer... de um fazer frente a um adolescente que, encarcerado nas trincheiras promovidas pelos autismos, belisca os calcares do outro, como modo de laço social. Ou um fazer frente àquele que aprende a falar a partir da fala de um papagaio, posto que é voz passível de escuta para, em seguida, dizer ele mesmo - endereçando-se? Ou ainda para dizer do não-saber-fazer frente ao adolescente que abusa das drogas, desprezando qualquer palavra ou ato que faça corte neste movimento perigoso e mortífero.
Os autores querem transmitir o estatuto do convívio possível com estas crianças e adolescentes, por vezes delirantes, desnorteadas, que fazem de seu corpo um objeto dado a ver, embora recusem veementemente o olhar. Querem trazer interrogantes, questões que nos concernem, que dizem do sofrimento psíquico grave de crianças e adolescentes, de sua palavra, seu saber no vasto campo da política pública em Saúde Mental.
Nosso desejo é fazer chegar aos diferentes interlocutores e agentes de cuidado, as respostas que crianças e adolescentes produzem frente ao mal-estar da cultura e aos fatos da estrutura psíquica: neuroses graves, psicoses, autismos. Mas sobretudo, queremos transmitir que o cuidado e o tratamento é possível, em uma rede de atenção, dispensando outras e novas instituições completas que, em nome da assistência, fariam uma exclusão às avessas: incluir, excluindo.
Nas entrelinhas de cada escrito, acreditamos, vão se cunhar e se inscrever ideias, propostas, novos horizontes, debates, avanços na teoria, no cuidado, na proteção e no tratamento de crianças e adolescentes aprisionados pela loucura e pelo enlouquecimento, a partir destas interlocuções que se abrem, dos silêncios e das rasuras do texto.
Tânia Ferreira e Valéria Lima Bontempo
APRESENTAÇÃO 15
Maria Cristina Ventura Couto
INTRODUÇÃO
CRIANÇAS E ADOLESCENTES: O cuidado em saúde mental o trabalho feito por muitos 19
Tânia Ferreira, Valéria Lima Bontempo
CAPÍTULO 1
A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E OS PRINCÍPIOS CLÍNICOS QUE A SUSTENTA 25
A BRINCADEIRA DE PARIR GATOS OU COMO SE FAZ POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL INFANTO JUVENIL: recortes 29
Rodrigo Chaves Nogueira
A FUNÇÃO SOCIAL DE UM CAPSI 39
Mônica Eulália da Silva
CRIANÇA E ADOLESCENTE EM SOFRIMENTO PSÍQUICO E OS ESPAÇOS DA CIDADE 45
Valéria Lima Bontempo
O CONSELHO E A ORDEM 53
Jacques Akerman
CAPÍTULO 2
A CLINICA REINVENTADA E A SAÚDE MENTAL INFANTO JUVENIL 65
CASA DA PALAVRA: a clínica reinventada e a saúde mental infanto juvenil 69
Tânia Ferreira
ROMPENDO SILÊNCIO DO AUTISMO 79
Bianca Lucindo Côrtes, Tânia Ferreira
OS ENIGMAS DA CLÍNICA DO AUTISMO 83
Rosângela Rodrigues Morais, Tânia Ferreira
A PSICOSE NA ATENÇÃO. BÁSICA DE SAÚDE 93
DamelliT avares Gervásio
PSICANÁLlSE NA CLÍNICA COM BEBÊS 101
Danielli Tavares Gervásio
UMA MENINA E SUA MÃE 107
Maila de Castro L. das Neves
A VIDA SEM VENTURA DE MOISÉS OU HÁ VIDA SEM VENTURA DE MOISÉS? 113
Patrícia Antunes Tavares
A ASSISTÊNCIA ÁS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM USO
DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL: da experiência clínica 121
Zaíra Ubaldina Pereira
CAPÍTULO 3
OS DISPOSITIVOS DE CUIDADO EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: A que será que se destinam? 127
OS DISPOSITIVOS DE CUIDADO EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA E ADOLESCENTE:
a que será que se destinam? 131
Maria Cláudia Generoso
ESPAÇOS DE CONVERSAÇÃO: uma possibilidade de acolhimento 139
Ana Paula Lappan Botti, Cláudia Magalhães Martins da Costa,
Dirley Lellis dos Santos Faria, Silvia Pereira Nunes de Meio,
Valéria Lima Bontempo
DOS CUIDADOS INTENSIVOS NA PERMANÊNCIA-DIA DE UM
SERVIÇO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE MENTAL INFANTO JUVENIL 149
Valéria Lima Bontempo
EXPERIMENTANDO A PERMANÊNCIA-DIA. 157
Dirley Lellis dos Santos Faria
ASSEMBLEIA: construindo o espaço da diferença 161
Valéria Lima Bontempo
MÓDULO TERAPÊUTICO: um dispositivo de tratamento 167
Ana Maria Correa de Paula Gontijo, Rosângela Rodrigues Morais
ALGUMAS NOTAS SOBRE UMA ABORDAGEM FAMILIAR NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS EM SOFRIMENTOS PSÍQUICOS GRAVES 173
Mônica Eulália da Silva, Silvia Pereira Nunes de Meio
O ESPORTE E A CONSTRUÇÃO DO LAÇO SOCIAL 179
Andréa Souto Araújo Leite, Rodrigo Chaves Nogueira, Valéria Lima Bontempo
CAPÍTULO 4
SABERES,OLHARES E ESCUTA NA ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL:
o trabalho feito por muitos 189
UM BEM IGUAL PARA TODOS: produzir a verdade de cada criança 193
Oscar Cirino
CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL NA PERMANÊNCIA-DIA DE UM SERVIÇO DE URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL INFANTO JUVENIL 199
Ana Maria Correa de Pauta Gontijo, Rosângela Rodrigues Morais
A ENFERMAGEM E A CONSTRUÇÃO DE SABER NA PERMANÊNCIA-DIA DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE MENTAL INFANTO JUVENIL 207
Ana Pauta Lappann Botti
ENFERMAGEM E SAÚDE MENTAL: a função do enfermeiro nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 213
Mariana Soares de Freitas
ACOMPANHAMENTO SOCIAL DE CASO EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE MENTAL INFANTO JUVENIL 223
Cláudia S. Barbosa Garcias
NOTAS SOBRE O PSICÓLOGO E O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTO JUVENIL 229
Zaíra Ubaldina Pereira
SOBRE OS AUTORES 233
